Ato Público em defesa da Educação e Campus dos Malês

No dia que antecedeu a greve geral dos professores contra o desmanche na Educação, com os cortes de verbas oriundos do Governo Federal, e contra a Reforma da Previdência Social, docentes e estudantes da UNILAB (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira), cujo campus na Bahia está situado em São Francisco do Conde, uniram-se a população simpatizante à causa e fizeram um grande Ato Público em defesa daquela e demais universidades do país.

Tanto nós que estamos nos municípios quanto nos estados, e aí me refiro ao segmento da sociedade que mais vai sofrer mais com essas políticas que estão sendo implantadas, sabe a quem essas decisões atendem; que é ao capital e ao poder econômico. Isso é o verdadeiro desmonte do Estado para o atendimento das nossas questões relacionadas à reparação com dignidade, com tudo o que nos foi tirado nesses 500 anos”, disse em discurso a secretária de Planejamento de São Francisco do Conde, Silmar Carmo, no início de sua explanação. A gestora disse ainda que a permanência e a manutenção da Unilab são fundamentais para o desenvolvimento deste território. “A gente está nessa luta e eu gostaria de externar que tanto a professora Miriam quanto os poderes Legislativo e Executivo estão trabalhando diuturnamente para que a manutenção dessa universidade seja garantida. A gente vem numa batalha de mais de seis meses em conversa com diversos parlamentares, de todos os segmentos, porque a gente entende que a permanência da universidade neste território é fundamental para o desenvolvimento regional. Essa universidade não é de São Francisco e sim da Bahia e nela a gente tem o projeto de desenvolvimento regional com o curso de Medicina. A gente não vai se furtar de lutar, de ir às ruas ou bater na porta de todos os gabinetes possíveis para mudar essa situação. Eu tenho certeza de que o Malês vai ter grandes anos de produção científica, tecnológica e de pertencimento identitário para nossa cidade e nossa região”.

Ainda representando a gestão municipal, a secretária da Saúde, Eleuzina Falcão, destacou que lutar sempre foi uma marca da Unilab. “As pessoas aqui sabem que passamos momentos de dificuldades em momentos anteriores, e muitos diziam que não teríamos condições de manter e teríamos de fechar as portas, mas todas as vezes que as ameaças se apresentaram fomos para rua e brigamos, utilizamos todas as possibilidades, trabalhamos conjuntamente e conseguimos reverter as situações. Eu acredito que dessa vez não vai ser diferente. A história de luta desta universidade antecede a mim e a própria professora Miriam, mas entendemos que esse é o caminho que vai dar legitimidade ao crescimento e desenvolvimento desta região. Para isso, temos cumprido agendas positivas com diversos parlamentares em busca dessa defesa e não vamos aceitar que essa política que está sendo imposta”, disse aguerrida.

Não obstante às práticas de resistência, a secretária de Desenvolvimento Econômico do município, Ana Christina de Oliveira, relatou sobre as dificuldades já passadas pelo povo franciscano de se inserir numa universidade e convocou a platéia à mobilização. “Essa é uma cidade que lá atrás as pessoas tiveram muita dificuldade de abrir caminhos e chegar ao Ensino Superior. Hoje temos uma universidade pública aqui dentro, que com certeza vai alavancar o desenvolvimento dessa região. As parcerias estão sendo construídas no sentido de que a academia possa, inclusive, ajudar a gestão com políticas públicas que cheguem a todas as pessoas da cidade e vamos seguir firmes, defendo os direitos dessa universidade permanecer e se consolidar no município. A educação é uma das ferramentas mais poderosas de transformação. Então, vamos acreditar na força e no poder que ela tem para sairmos de algumas situações impostas. Temos perfil de povo que luta e acredita. Então, vamos à mobilização!”.

Do outro lado, a professora Miriam Reis, diretora do Campus dos Malês, exibiu os números que representam os gastos hoje na universidade. “Eu não vim trazer bombons para vocês e sim os dados que falam de nossa realidade. Embora o governo não trate como corte, temos vivido com corte já algum tempo, devido ao contingenciamento severo de investimentos. No início de 2019, o Campus dos Malês recebeu orçamento para cobrir apenas 70,15% (equivalente a R$ 2.141.717,16) do que foi gasto com custeio no ano de 2018. Com essa realidade de redução orçamentária, a tabela foi refeita, e diminuindo o valor dos contratos (sem realizar corte de pessoal), a previsão de gastos para o ano de 2019 (considerando contratos executados e previstos) chega ao valor de R$ 4.245.474,05”, disse a gestora preocupada, pois essa realidade afeta diretamente o cumprimento dos contratos. Porém, mudar esta condição é algo que a professora não desistirá. “A Unilab existe como lugar, como instrumento de espaço de produção acadêmica, de produção científica de excelência, com essa cara e cor que é nossa, só a gente sabe como todo dia é dia de resistência. Esta é uma universidade de punjância, viva e de resistência todos os dias e não vamos parar. Agradeço aos sindicatos, a gestão municipal e a Câmara de Vereadores que têm apoiado esta universidade”.

A deputada estadual Olívia Santana, abraçada como “madrinha” da instituição, também manifestou seu apoio em favor da Unilab e fez duras críticas ao governo atual. “Se essa universidade tivesse a cara européia, majoritariamente branca, talvez, ela não tivesse recebendo esse tratamento. As universidades públicas e federais estão sob ataque porque nós lutamos e vencemos a política de cotas para negros em universidades. Essa foi a primeira política concreta em favor do povo preto nesse país e a gente só consolidou essa conquista em 2012, quando houve julgamento no STF. Esse novo governo quer destruir tudo que foi construído ao longo dos anos ou qualquer perspectiva esquerda. Ele quer que vivamos no obscurantismo, mas a Unilab não pode ser outra coisa senão resistência. Dia 15 todo mundo na rua, na greve da educação. Nós temos que mostrar que temos capacidade de reagir. Viva o Malês! Viva a Unilab!”.

O ato teve ainda a participação dos vereadores Luís de Campinas, Pita de Gal e Cravinho; Raquel – presidente da APUB (Associação dos Professores Universitários Federais da Bahia), Edgar – ASSUFBA (Associação dos Técnicos Administrativos das Universidades Federais da Bahia), Anderson – DCE (Diretório Central dos Estudantes).

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