Cultura

São Francisco do Conde é guardiã de uma diversidade cultural inestimável. Suas maiores riquezas foram preservadas por meio da história passada de geração para geração. Desde a origem da cidade, os africanos que a habitavam aprenderam o valor, a importância e a sabedoria do falar. Por isso, ainda hoje, se mantêm vivas as manifestações culturais da Era Colonial, entre elas o Bumba-meu-boi e a Nega Maluca. Também existem as produções culturais como o Lindroamor, Capabode, Mandus e os Meninos da Lama. Mas, sem dúvida, a festa mais comemorada no município é o seu tradicionalíssimo São João que conta com danças populares, como o forró e a quadrilha, além de ter as bebidas e as comidas típicas da região.

Conheça um pouco mais sobre as manifestações culturais do município abaixo.

Capabode
A palavra Capabode surgiu durante a Era Colonial, a expressão vem do ato dos escravos de arrancar os testículos do bode. Os africanos escravizados também arrancavam a cabeça do animal e usavam para se disfarçar e conseguir fugir dos senhores de engenho. Mais tarde, os escravos descendentes de bantos (Angola) começaram a confeccionar máscaras horripilantes para assustar e saquear os estabelecimentos locais. Com o passar do tempo, a história e as máscaras dos capabodes foi incorporada ao carnaval, tornado-se um dos grupos mais animados da cidade.

Mandu
A palavra Mandu pode ser encontrada tanto no vocabulário dos índios quanto no dos africanos. Para os índios, significa uma espécie de fantasma e para os segundos é aquele que se dedica a um orixá, no caso Xangô, Ifã e Obatalá. Nas festas, as pessoas tocavam atabaques, berimbau e rucumbo, instrumentos que ficavam ocultos sob as vestes. Independente da origem, a tradição se iniciou no século XXI e se perpetuou no calendário folclórico da cidade de São Francisco do Conde.

Meninos da Lama
No carnaval de São Francisco do Conde, uma forte tradição são os Meninos da Lama. São garotos, filhos de marisqueiros da região, que saem às ruas durante o carnaval, com o corpo coberto de lama. O grupo meninos da lama na verdade é uma forma cultural de passar para a sociedade a realidade onde os meninos estão inseridos, pois são crianças que sobrevivem do trabalho que realizam como marisqueiros ou catadores de caranguejo junto com seus pais, de onde tiram o sustento de suas famílias. Eles mostram de onde vieram e em que local estao fixadas as suas raízes.


Nega Maluca

A personagem Nega Maluca foi criada por Luís Carlos do Santos Sacramento, conhecido em São Francisco do Conde como Neném. O artista de 44 anos de idade e 27 anos de cultura Franciscana sempre inventou personagens, mas pensando em criar um que fosse único e especial no Brasil, fez a Nega Maluca.
Durante um dia de carnaval, o autor se deparou com uma coisa preta em seu quarto e teve um ataque de riso. Neste momento, lhe surgiu a idéia da personagem. Correu para a casa de sua mãe em São Francisco do Conde para conseguir os acessórios da Nega. Ele mesmo conta como foi: – Ao chegar à casa da minha mãe, em São Francisco do Conde, peguei uma peruca, consegui uma roupa preta, catei uns bagos de carvão e comecei a pisar, depois passei pelo corpo todo, vesti as roupas, pintei os lábios de batom vermelho e fui para a avenida. Os foliões começaram a perguntar: “O que é aquilo? Aquela maluca pelas ruas beijando um e outro.”
Era a Nega Maluca que hoje pode ser encontrada em várias partes do Brasil, nas suas mais diversas caricaturas.

Lindroamor
O grupo Lindroamor teve sua origem nas festas religiosas trazidas pelos portugueses, principalmente no culto a São Cosme e Damião. Durante os festejos dos nobres, restava aos escravos sair pelas ruas em grupos para tentar conseguir esmolas. Com o tempo, eles perceberam que introduzir imagens de santos em bandejas floridas e bandeiras e cantar e dançar com um gingado todo especial típico de Angola tornaria o grupo mais atrativo e traria mais dinheiro para eles.O Lidroamor Axé é o mais representativo dos gêneros no Brasil, foi reativado a mais de 10 anos e conta com mais de 80 integrantes da comunidade de São Francisco do Conde na Bahia. O grupo Lindroamor atravessou séculos e hoje é um dos grupos culturais mais importantes do Brasil



Bumba-meu-boi
A história do Bumba-meu-boi surgiu na fazenda de Feliciano dos Santos, que depois se tornou o presidente do Bumba em São Francisco do Conde. Certo dia, Feliciano teve que fazer uma viagem de trabalho e deixou sua fazenda e seu Boi Alazão a cargo de seu afilhado de confiança. Justamente quando o fazendeiro viajava, sua mulher, grávida, teve um desejo: comer o fígado do boi de estimação. João, o afilhado, resistiu o quanto pôde, só que a mulher adoeceu e ele teve que sacrificar o boi.

A esposa ficou boa e teve a criança, mas quando Feliciano chegou logo se deu conta do sumiço de seu boi Alazão e foi até a casa de seu afilhado para saber o que tinha acontecido.
Prontamente, João respondeu:
– O nosso Boi Alazão bebeu água de mandioca e depois caiu no chão.
O fazendeiro logo exigiu que João desse conta de um boi para substituir o seu Alazão, nem que fosse de madeira ou até mesmo através de um desenho, mas ele queria seu boi.

Uma coluna foi feita com um pedaço de madeira de 2 metros e com 12 costelas (seis de cada lado) feitas de talisca de bambu. O olho é de cabaça de frade, o rabo é preso em um forro de pano e para cobrir o corpo do boi são utilizados 6 metros de tecido estampado e uma pessoa embaixo para fazer os movimentos do animal. Na frente, o vaqueiro vai vestido com roupa de couro. Assim foi criado o Bumba-meu-Boi, com a caveira original do alazão.

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