Conheça a história de superação e esperança do jovem Matheus, que ficou famoso com o hit “Vem Matcheka”

Às lutas…

Assim como a história de muitos jovens, a de Matheus Júnior de Souza, de 16 anos, também foi cheia de momentos difíceis. Desde criança ele passou por muitas dificuldades, aliadas a ausência dos pais biológicos. Essa história começou a mudar quando ele foi acolhido, ainda bebê, por uma família franciscana, sendo a matriarca Dona Margarida Costa de Jesus. 

No dia 31 de setembro de 2003, foi a primeira vez que Dona Margarida viu Matheus. Após o falecimento do seu marido, o que lhe deixou depressiva e sem esperanças, ela foi aconselhada a viajar para a casa de sua comadre, sendo esta a avó biológica de Matheus. Ao narrar a história, muito emocionada e com um porta-retrato com duas fotos de Matheus, há época, daquele que futuramente seria o seu filho, Dona Margarida descreveu minuciosamente o momento que marcaria para sempre as suas vidas.

Quando eu cheguei na casa dessa senhora, eu vi Matheus pela primeira vez. Ele estava sentado em cima de uma mesa com apenas alguns meses de vida, muito debilitado e abaixo do peso ideal para uma criança. Quando ele me viu começou a chorar, muito assustado, o que também me chamou atenção. Os dias foram passando e eu estava muito fragilizada pela perda do meu marido. Durante os dias em que eu permaneci na casa da avó do Matheus fui conhecendo um pouco mais das dificuldades que ela enfrentava para cria-lo, foi aí que ela própria sugeriu que eu o levasse para a minha casa, em São Francisco do Conde. No começo, o combinado era que criança ficasse comigo por um mês, já que eu havia dito que também não teria condições de criá-lo, porque já tinha seis filhos e os sustentava com a venda do marisco, atividade que exerço até hoje e que me ajudou a criar os meus filhos. Mas, os dias foram passando e ela [avó de Matheus] não vinha buscá-lo, então, eu precisava fazer alguma coisa, e assim eu fiz! Comecei a cuidar dele, levei ao médico, que me alertou que talvez a criança não sobrevivesse, devido a sua fragilidade. Mesmo com essas dificuldades e aquela altura, eu já estava muito apegada ao Matheus, fui até o cartório e pedi que chamasse a avó dele para tomarmos alguma providência que fosse melhor para a criança. Então, ela [a avó] passou a guarda de Matheus para mim, porque ele não tinha nem registro de nascimento. Ao ser perguntada sobre o motivo de ter passado a guarda dele para mim, ela prontamente respondeu que era porque confiava em mim. Mesmo após a adoção oficial, eu nunca o afastei da avó biológica, pelo contrário, todas as vezes que ela vinha à São Francisco o encontrava, mas, depois, o tempo foi passando e foram se distanciando”.

Superação e amor

Sempre com muita irreverência e com o apelido de “pivete feio” (ainda falaremos sobre isso), Matheus foi crescendo, fazendo novas amizades e descobrindo seus próprios talentos, como a dança. Atrelado ao seu carisma e desenvoltura na dança, ele se destacava em todas as rodas de amigos e encontros de família. E foi através desse talento para a dança que o jovem mostrou todo o seu gingado e bom humor para driblar as dificuldades que a vida lhes mostrava, desde o seu nascimento. Em meio aos dilemas de todo o jovem, num momento de descontração com os amigos, no corredor da escola, Matheus nunca podia imaginar que em apenas 30 segundos sua vida daria uma grande reviravolta, pela segunda vez. 

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Foi através de uma das inúmeras ações que são desenvolvidas no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do bairro de São Bento das Lages – órgão vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Esportes (SEDESE), que Matheus pôde enxergar um novo rumo para a sua vida fazendo o que mais gosta, dançar! 

Já integrado aos projetos do CRAS, aos profissionais e aos outros beneficiários do centro, sua transformação foi visível, como conta o seu professor de dança, Pablo Macedo:

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Matheus quando chegou aqui era muito inquieto e, com o passar do tempo, dos trabalhos que nós realizamos, toda equipe do CRAS envolvida, com as aulas de dança e as apresentações para a comunidade, Matheus foi se destacando cada vez mais e, hoje, tornou-se uma inspiração para outros jovens. Ele é um adolescente muito educado e fico muito feliz em fazer parte da vida dele, sendo um bom exemplo. Quando soubemos da repercussão do vídeo ficamos contentes em saber que tudo o que fizemos e continuamos fazendo no CRAS, por ele e por tantos outros jovens franciscanos, vêm surtindo efeitos positivos. No CRAS, nós desenvolvemos ações que integram todo contexto familiar, prezando pelo respeito e, sobretudo, proporcionando oportunidades para que esses talentos sejam aflorados e que esses jovens possam se tornar protagonistas da sua própria história”. 

A reviravolta

No corredor do colégio, de forma despretensiosa, com os batuques improvisados pelos colegas de classe, Rauan Ramos e Hebert Santos. Foi nesse cenário que a história do esperto menino cruzou a do vocalista da Banda La Fúria, Bruno Magnata. Junto aos seus amigos, surgiu a ideia de gravar um vídeo de “resenha” – que no “baianês” significa brincadeira, que Matheus caiu nas graças dos internautas com mais de 40 mil visualizações. Com tanta repercussão, o treme-treme do Matheus, também apelidado de “Matcheka”, chamou a atenção do cantor famoso. Aclamado nas redes sociais, os fãs do “Matcheka” – que também formou uma banda com os seus amigos, chamada O Swing. JD, recebeu um convite mais que especial e irrecusável: gravar a música “Vem Matckeka” com toda a estrutura de um estúdio profissional à disposição e com a participação do vocalista de uma das bandas de pagode mais populares da Bahia. Como não poderia ser diferente, mais uma vez, Matheus mostrou sua swingueira com o hit sensação do momento “Vem Matcheka”, que já se espalhou por todos os cantos, muito além das fronteiras de São Francisco do Conde. No último domingo (15), Matheus viveu outro momento inesquecível em sua vida. Junto com a Banda La Fúria e seu vocalista Bruno Magnata, o “Vem Matcheka” agitou um dos eventos mais importantes e ecléticos da Bahia, o Salvador Fest. 

Eu vi o vídeo dele no Instagram. Um vídeo muito engraçado por sinal. Os fãs da La Fúria começaram a me pedir para cantar Matcheka e daí resolvi fazer o convite a eles. Eles vieram à salvador e gravamos a música. Está todo mundo curtindo e a dança dele me chamou muito atenção”, destacou o cantor da La Fúria, Bruno Magnata.

E, se você está curioso para saber como Matheus se sente com essa meteórica fama, tenha a certeza que o orgulho de Dona Margarida só aumentou com essa declaração:

Eu nunca imaginei que esse vídeo teria tantas repercussões. Estou muito feliz por viver esse momento, mas sempre com os pés no chão. Continuo ajudando minha mãe, conversando com meus amigos, frequentando as aulas de dança no CRAS, onde todos me tratam muito bem e também faço parte do grupo mirim de Samba Chula: Flores da Pitanga, onde eu aprendi a tocar a viola Machete, com os ensinamentos do meu professor Milton Primo, que também sou grato por tudo”. 

As bênçãos da mãe

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Com toda fé e amor que transborda o coração de Dona Margarida, o futuro de Matheus é entregue a Deus, com as bênçãos da sua mãe do coração, esta que nunca lhe faltou. 

Matheus foi recebido com muito amor na minha família. Apesar de ser marisqueira, das dificuldades, eu criei todos os meus filhos com muita dignidade, todo seguiram um bom caminho e são motivo de muito orgulho. Quando soube da repercussão do vídeo eu fiquei, inicialmente, muito preocupada, porque ele sempre foi um bom menino, muito religioso, então fiquei com medo de soltá-lo para a vida, por tudo que a gente tem visto, as drogas, as más companhias. Como mãe, eu fiquei angustiada, mas estou sempre ao lado dele, acompanhando a sua trajetória de perto. Peço a Deus que abra os seus caminhos e que as oportunidades apareçam, porque meu filho é muito talentoso e merece muito”, enfatizou Dona Margarida, cheia de orgulho.   

Matheus, um jovem inspirador

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Toda essa história inspiradora, protagonizada por Matheus, que soube usar a criatividade para driblar as dificuldades e mudar a sua vida, só foi possível graças ao talento e as oportunidades que lhe foram proporcionadas diante das adversidades. A perseverança de Matheus é um exemplo a ser seguido. Uma criança que não tinha registro de nascimento, que desafiou a medicina, derrubou as barreiras do preconceito e do bullying ao ser apelidado de “pivete feio”, hoje, tornou-se inspiração e motiva a sua geração. 

Quando me apelidaram de ‘pivete feio’, eu não tinha consciência do que era bullying, mas eu sempre optava por não me importar e nem brigar. Hoje, eu consigo entender que precisamos respeitar o próximo, porque essas brincadeiras podem magoar e causar um grande sofrimento. Para todos aqueles que estão passando por isso, o meu conselho é que mostrem o que são capazes, que façam a diferença e despertem os seus talentos. Eu quero muito ter a oportunidade de me apresentar em vários lugares com a minha banda, levar o que sinto, a minha emoção para outras pessoas e poder falar sobre o bullying para os jovens da minha idade”.

Descobrir qual o seu talento é um caminho desafiador e de autoconhecimento para a juventude. Com tantos entraves e os dilemas que atormentam a fase da adolescência, a tríade: família, juventude e políticas públicas devem ser fortalecidas por meio de ações socioeducativas, a exemplo das que são executadas pelas unidades do CRAS que atuam em São Francisco do Conde e de toda estrutura psicossocial que está à disposição dos jovens franciscanos no combate ao bullying, ao racismo, a violência e as diversas formas de desigualdade e preconceito. 

Bullying é a prática de atos violentos, intencionais e repetidos, contra uma pessoa indefesa, que podem causar danos físicos e psicológicos às vítimas. O termo surgiu a partir do inglês  bully palavra que significa tirano, brigão ou valentão, na tradução para o português.

Todos contra o bullying!

Diversas ações de prevenção e combate ao bullying são realizadas pelos órgãos que integram a gestão pública em São Francisco do Conde. Palestras e seminários são realizados, tanto nas unidades escolares quanto no CRAS, no Centro de Referência Especializado de Assistência Social  – CREAS e também no Programa de Atenção e Acompanhamento Pedagógico e Psicossocial a Estudantes (PROAP) – orgão vinculado à Secretaria da Educação (SEDUC), que possui uma rede multiprofissional com psicólogos que desenvolvem junto aos professores ações que visam propagar valores humanos e a cidadania entre os estudantes, proporcionando a todos os alunos um ambiente saudável e acolhedor.

CRAS: Transformando vidas!

Em São Francisco do Conde, existem três unidades do Centro de Referência da Assistência Social, nos bairros de São Bento (Centro), Caípe e Coroado. 

O serviço principal oferecido pela organização é o PAIF. O PAIF é o serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família. Ele serve para orientar as famílias a evitarem e prevenirem situações de vulnerabilidade ou que estão relacionadas com a violência. Além disso, eles reúnem pessoas de mesma idade, por meio do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos.

CRAS: Suas funções principais – Ofertar o serviço PAIF; fortalecer a rede de proteção social básica municipal; prevenir riscos sociais na cidade; assegurar direitos às populações mais pobres. É por meio do CRAS que muitas famílias presentes na extrema pobreza têm acesso aos serviços que o governo oferece, como o Bolsa Família.

O trabalho do CRAS nas comunidades mais carentes é muito claro. Os idosos, crianças, gestantes e pessoas que estão em condições desfavoráveis são todos amparados pelo serviço. A organização oferece um tratamento psicológico e social desses grupos que estão à margem da sociedade.

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