5º ano da Lei 361/2014, que dispõe sobre o Dia das Religiões de Matriz Africana no município franciscano, foi celebrado com um encontro de ressignificação da data 13 de maio
14/05/2019 Cultura , NotíciasPromovido pelo Colegiado Permanente das Religiões de Matriz Africana de São Francisco do Conde e apoiado pela Prefeitura Municipal, o encontro desta segunda-feira, no Quilombo Dom João, trouxe abordagens que perpassavam a sustentabilidade, racismo, combate à intolerância religiosa e a história em si da data 13 de maio, a qual é muitas vezes deturpada nos livros de História.
“O colegiado se reúne aqui no quilombo, neste 13 de maio, com a proposta de ressignificar essa data, trazendo informações e criando novas propostas e novos pensamentos, para este mesmo povo”, destacou Pai Alex, diante da temática, levando ainda sua preocupação com as questões ambientais. “Nós temos uma grande preocupação com o meio ambiente, até porque nossa religião é pautada na natureza. Então, falar de sustentabilidade, cuidado com o meio ambiente, preservação e todos os assuntos inerentes a essa questão é importante para o povo de santo”. De acordo com Pai Alex, atualmente, as oferendas são preparadas pensando no cuidado com a natureza, inclusive, tendo a inserção de produtos biodegradáveis. “Assim damos uma leitura mais consciente as práticas da nossa religião”.
Para a historiada, especialista e Mestra em Estudo da Linguagem Afro, Aline Najara, o dia de hoje favorece a visibilidade do povo negro e sua história de lutas e estratégias pelo fim do trabalho forçado, antes mesmo do que ficou marcado como “abolição da escravatura”. “A história do povo negro, de uma forma geral, foi muito invisibilizada. Pegar o 13 de maio e ressignificar ele é importantíssimo, porque a experiência da abolição legal não foi a primeira experiência de liberdade dos trabalhadores escravizados. O período em que a lei é promulgada, em 1888, a quantidade de trabalhadores escravizados era muito pequena, porque essas pessoas já tinham buscado caminhos e estratégias para sair da situação de escravidão, seja pelas fugas, pelos quilombos, juntas de alforria e compra dessas liberdades, enfim, as estratégias eram inúmeras. Então, eu acho que esse processo de ressignificação, e aqui em São Francisco do Conde ser uma data de homenagem a essas populações de matriz africana, é importantíssimo porque ajuda a tirar esse véu que cobriu por tanto tempo a história das populações negras”, ressaltou a autora do livro Luiza de Mahim: uma rainha africana no Brasil. “Me sinto muito honrada de estar aqui. As casas de santo precisam conhecer as suas trajetórias, isso é importante para que possamos sair do circulo de invisibilidade e para que possamos afirmar os nossos caminhos, ressignifica-los e valorizar nossa identidade religiosa, que tem sido alvo de tanto ataque e tanto ódio religioso”.
Presente ao encontro, a secretária de Turismo, Ússula Flávia, falou sobre as perspectivas de produção do segmento. “A Setur tem trabalhado o viés da inclusão sócio-produtiva desses espaços de fé. Entendemos que a religião, em qualquer de suas crenças, tem um vetor socioeconômico que vem junto, porque quando a gente pensa em um terreiro, a gente pensa em toda produção que vem junto com ele – seja na gastronomia, no artesanato ou nas manifestações culturais – e esse arranjo pode sim ser mais uma alternativa para os nossos munícipes. Quando a gente fala de aquecer toda produção de dentro de um terreiro a gente fala de diversificar todos esses produtos, o mesmo se aplica na questão do turismo católico, evangélico, porque cada crença traz a sua expertise e com isso vem a possibilidade de crescimento socioeconômico”.
A secretária de Direitos Humanos, Cidadania e Juventude, Luciana Araújo, também deu sua colaboração, no que diz respeito ao papel da gestão municipal nesse contexto. “Uma atividade como essa tem papel importantíssimo para o segmento, vez que traz a ressignificação do 13 de Maio. É uma atividade construída por eles, pensada por eles e eu acredito que só assim vamos construir políticas públicas efetivas, porque são propostas feitas por eles, para melhorias do segmento, de acessibilidade e propriedade da identidade do povo de axé. A gente já ta passando por um momento de tanto ressarcimento no país, mas a gestão entende que essa construção que está sendo feita pelo colegiado dos povos de matriz africana é uma construção séria, sólida e que vai trazer benefícios pra essa população, a partir desses encontros, em que todos colocam seus anseios”.
A dona da casa, a ialorixá Anna Sindoyá, do Terreiro Ilê Axé Oyá Vangolô Vangolô, não escondeu sua alegria e gratidão pelo momento. “Eu estou muito feliz e me sentindo muito bem representada por aqueles que aqui estão e os meus orixás. Tudo que eu tenho e que sou eu agradeço aos meus orixás. E hoje vamos sair daqui com diretrizes de melhorias de políticas públicas para a comunidade de matriz africana. Que neste dia os caminhos estejam abertos para mim e todos que aqui estão”.
A temática “Resignificar é Reafirmar – Repensando Antigas Práticas” teve ainda a participação ativa da secretária de Desenvolvimento Econômico, Ana Christina de Oliveira, que falou sobre a perspectiva de cursos voltados para pessoas do segmento de matriz africana; Bruno Barbosa, engenheiro agrônomo e gestor ambiental da Fundação Vovó do Mangue, com a abordagem “Sustentabilidade e Boas Práticas”; Maurício Reis – responsável pelo mapeamento dos terreiros locais e cidades próximas e a diretora de Cultura, da SECULT, Joelza Menezes, que esteve representando o secretário da pasta, Osman Ramos, além da representação de 25 terreiros da região.