5º ano da Lei 361/2014, que dispõe sobre o Dia das Religiões de Matriz Africana no município franciscano, foi celebrado com um encontro de ressignificação da data 13 de maio

Promovido pelo Colegiado Permanente das Religiões de Matriz Africana de São Francisco do Conde e apoiado pela Prefeitura Municipal, o encontro desta segunda-feira, no Quilombo Dom João, trouxe abordagens que perpassavam a sustentabilidade, racismo, combate à intolerância religiosa e a história em si da data 13 de maio, a qual é muitas vezes deturpada nos livros de História.

O colegiado se reúne aqui no quilombo, neste 13 de maio, com a proposta de ressignificar essa data, trazendo informações e criando novas propostas e novos pensamentos, para este mesmo povo”, destacou Pai Alex, diante da temática, levando ainda sua preocupação com as questões ambientais. “Nós temos uma grande preocupação com o meio ambiente, até porque nossa religião é pautada na natureza. Então, falar de sustentabilidade, cuidado com o meio ambiente, preservação e todos os assuntos inerentes a essa questão é importante para o povo de santo”. De acordo com Pai Alex, atualmente, as oferendas são preparadas pensando no cuidado com a natureza, inclusive, tendo a inserção de produtos biodegradáveis. “Assim damos uma leitura mais consciente as práticas da nossa religião”.

Para a historiada, especialista e Mestra em Estudo da Linguagem Afro, Aline Najara, o dia de hoje favorece a visibilidade do povo negro e sua história de lutas e estratégias pelo fim do trabalho forçado, antes mesmo do que ficou marcado como “abolição da escravatura”. “A história do povo negro, de uma forma geral, foi muito invisibilizada. Pegar o 13 de maio e ressignificar ele é importantíssimo, porque a experiência da abolição legal não foi a primeira experiência de liberdade dos trabalhadores escravizados. O período em que a lei é promulgada, em 1888, a quantidade de trabalhadores escravizados era muito pequena, porque essas pessoas já tinham buscado caminhos e estratégias para sair da situação de escravidão, seja pelas fugas, pelos quilombos, juntas de alforria e compra dessas liberdades, enfim, as estratégias eram inúmeras. Então, eu acho que esse processo de ressignificação, e aqui em São Francisco do Conde ser uma data de homenagem a essas populações de matriz africana, é importantíssimo porque ajuda a tirar esse véu que cobriu por tanto tempo a história das populações negras”, ressaltou a autora do livro Luiza de Mahim: uma rainha africana no Brasil. “Me sinto muito honrada de estar aqui. As casas de santo precisam conhecer as suas trajetórias, isso é importante para que possamos sair do circulo de invisibilidade e para que possamos afirmar os nossos caminhos, ressignifica-los e valorizar nossa identidade religiosa, que tem sido alvo de tanto ataque e tanto ódio religioso”.

Presente ao encontro, a secretária de Turismo, Ússula Flávia, falou sobre as perspectivas de produção do segmento. “A Setur tem trabalhado o viés da inclusão sócio-produtiva desses espaços de fé. Entendemos que a religião, em qualquer de suas crenças, tem um vetor socioeconômico que vem junto, porque quando a gente pensa em um terreiro, a gente pensa em toda produção que vem junto com ele – seja na gastronomia, no artesanato ou nas manifestações culturais – e esse arranjo pode sim ser mais uma alternativa para os nossos munícipes. Quando a gente fala de aquecer toda produção de dentro de um terreiro a gente fala de diversificar todos esses produtos, o mesmo se aplica na questão do turismo católico, evangélico, porque cada crença traz a sua expertise e com isso vem a possibilidade de crescimento socioeconômico”.

A secretária de Direitos Humanos, Cidadania e Juventude, Luciana Araújo, também deu sua colaboração, no que diz respeito ao papel da gestão municipal nesse contexto. “Uma atividade como essa tem papel importantíssimo para o segmento, vez que traz a ressignificação do 13 de Maio. É uma atividade construída por eles, pensada por eles e eu acredito que só assim vamos construir políticas públicas efetivas, porque são propostas feitas por eles, para melhorias do segmento, de acessibilidade e propriedade da identidade do povo de axé. A gente já ta passando por um momento de tanto ressarcimento no país, mas a gestão entende que essa construção que está sendo feita pelo colegiado dos povos de matriz africana é uma construção séria, sólida e que vai trazer benefícios pra essa população, a partir desses encontros, em que todos colocam seus anseios”.

A dona da casa, a ialorixá Anna Sindoyá, do Terreiro Ilê Axé Oyá Vangolô Vangolô, não escondeu sua alegria e gratidão pelo momento. “Eu estou muito feliz e me sentindo muito bem representada por aqueles que aqui estão e os meus orixás. Tudo que eu tenho e que sou eu agradeço aos meus orixás. E hoje vamos sair daqui com diretrizes de melhorias de políticas públicas para a comunidade de matriz africana. Que neste dia os caminhos estejam abertos para mim e todos que aqui estão”.

A temática “Resignificar é Reafirmar – Repensando Antigas Práticas” teve ainda a participação ativa da secretária de Desenvolvimento Econômico, Ana Christina de Oliveira, que falou sobre a perspectiva de cursos voltados para pessoas do segmento de matriz africana; Bruno Barbosa, engenheiro agrônomo e gestor ambiental da Fundação Vovó do Mangue, com a abordagem “Sustentabilidade e Boas Práticas”; Maurício Reis – responsável pelo mapeamento dos terreiros locais e cidades próximas e a diretora de Cultura, da SECULT, Joelza Menezes, que esteve representando o secretário da pasta, Osman Ramos, além da representação de 25 terreiros da região.


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