Encontro com os coordenadores e membros dos Grupos de Trabalho para a construção do Referencial Curricular Franciscano foi realizado na terça-feira (16)

O ano de 2019 está sendo de grande relevância para a história da Educação em São Francisco do Conde, sobretudo pela mobilização que tem sido feita na Rede Municipal de Ensino para a construção coletiva do Referencial Curricular Franciscano. Como parte do processo democrático de elaboração deste referencial, na terça-feira (16) aconteceu mais um encontro dos Grupos de Trabalho, responsáveis por levar a cabo essa importante ação realizada pela Prefeitura, através da Secretaria Municipal da Educação (SEDUC).

No GT que discute a Educação de Jovens e Adultos foi feita uma análise conjunta da versão preliminar do texto referente a essa modalidade de ensino, norteado pelo seguinte questionamento: qual a concepção de ensino para a educação de jovens, adultos e idosos que queremos para o currículo franciscano? Respondendo a essa pergunta, referendada em teóricos que refletem a EJA, a escrita coletiva destaca as experiências e toda a bagagem histórica do educando, que devem ser valorizadas para favorecer uma aprendizagem significativa. Nesse sentido, a contextualização dos saberes, partindo da realidade dos estudantes, é uma das bases para a construção do conhecimento de maneira coletiva, na qual  o professor é um mediador.

Segundo Francisca Teles, “diferente do ensino regular, os estudantes da EJA têm autonomia para escolher permanecer ou não na escola”, citando o texto preliminar, “o currículo deve ser feito para elevação da autoestima, valorização e reconhecimento da diversidade, estimulando a tolerância, o respeito mútuo, a valorização às práticas sociais e o empreendedorismo”.

Não estamos aqui para deixar tudo o que construímos. Estamos reelaborando o texto, com a constituição dos GT´s. O que o grupo que está na EJA pensa sobre a educação?”, instigou a gerente da EJA, Jossilene Costa, incitando os professores presentes a consultarem os alunos, em sala de aula, a respeito. “Na escola, junto com os alunos, investiguem o que eles esperam e querem dessa educação, para a gente colocar no documento final, o olhar do aluno”.

Marcia Mariño reiterou essa mesma necessidade, se voltando para os jovens que também constituem a EJA, junto com os adultos e idosos: “o que para eles não está surtindo o resultado esperado? Essa é uma forma de sondar a nossa prática, registrando esses anseios, nos propondo a ouvir a perspectiva do jovem, dentro da EJA”.

Baseado nos princípios éticos, políticos e estéticos presentes na Base Comum Curricular – BNCC, o referencial da EJA irá primar por uma formação humana plena, onde “os próprios adultos com suas próprias experiências são o recurso mais rico de suas aprendizagens”. Segundo Francisca, “o currículo precisa favorecer a troca de saberes onde se possa desenvolver competências e habilidades”.

No GT da Educação Fundamental Anos Finais, o gerente Jefferson Moreira apresentou o protótipo com os elementos que irão compor o referencial curricular, onde estão presentes os princípios orientadores que irão balizar a construção do documento. “De posse desses elementos norteadores iremos entrar na construção específica dos conhecimentos eleitos”, explicou. 

As reflexões empreendidas no GT giraram em torno das transversalidades ampliadas, conceitos que atravessam todos os segmentos e modalidades de ensino, saber: a concepção de infância e juventude, ludicidade, diversidades, mundo do trabalho, processo identitário e contexto sócio cultural e histórico. Jefferson apresentou aos integrantes do Grupo de Trabalho, um glossário fundante, onde são apresentados os principais conceitos trazidos nas discussões empreendidas.

Como o currículo vai dar conta dessas discussões? Por exemplo, quanto ao conceito de juventude é necessário saber que existem juventudes múltiplas. É preciso pensar quem são os jovens que chegam na escola e trazer considerações do que entendemos por infância e por juventude”, declarou Jefferson.

Ainda no GT de Anos Finais, os participantes debateram o conceito de cidadania, motivados pelo pensamento democrático de participação popular. “É fundamental a participação popular nas decisões políticas”, declarou a professora Shayana Busson. “A cidadania na escola não vai fugir da questão de como construir a própria escola”, emendou, ao passo em que Jefferson salientou a necessidade de delinear teoricamente todos os conceitos utilizados no referencial curricular “o documento que está sendo construído é orientador do trabalho pedagógico na rede. Precisamos, enquanto sujeitos, definir coletivamente e democraticamente o que entendemos por cidadania”, destacou.

No GT de Ensino Fundamental Anos Iniciais uma das principais reflexões levantadas pelo grupo foi a respeito da autoformação e da heteroformação, no sentido de reconhecer que o outro é um ser em formação, assim como os próprios educadores. “O processo de formação não acaba”, afirmou Jaciara Bispo. “No processo de ensinar e aprender, aprendemos como aprender e como ensinar”.

Com relação à metodologia utilizada para a construção do currículo franciscano, Jaciara explicou que primeiro estão sendo apresentados os conceitos gerais. “Não serão tratadas as áreas de conhecimento isoladas. Primeiro são tratados os conceitos macros. Depois disso, estarão formadas as transversalidades ampliadas que perpassam todos os saberes”.

Outro tema debatido no GT foi com relação à transição entre os segmentos, uma vez que os alunos da Educação Infantil estão mais próximos do Ensino Fundamental Anos Iniciais, como declarou a professora Raquel Souza, que leciona na Escola Municipal Bartolomeu dos Santos Matos, localizada em São Bento das Lages. Segundo ela, “os acontecimentos externos sempre mudam os alunos. Não posso anular o perfil do meu público em sala de aula. Como viver esse currículo em sala de aula, respeitando a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental?”.

Para Jaciara Bispo, “quando a gente fala dessa transição, levamos em consideração as transversalidades ampliadas, que irão assegurar que o estudante não chegue no primeiro ano com essas lacunas. A construção do currículo parte muito dessa premissa de que os segmentos não irão ficar em seus quadrados. As transversalidades são, assim, conceitos comuns a todos os segmentos que irão ajudar a fazer essa transição mais tranquila, validando conhecimentos que devem ser trazidos de uma série para outra”.

A construção coletiva do Referencial Curricular Franciscano segue em frente, com encontros semanais para estudo, reflexões e debates. Até o mês de junho, o texto do documento será redigido, para ser apresentado à sociedade franciscana em uma consulta pública, que resultará na versão final e base para a elaboração do material didático-pedagógico a ser utilizado nas creches e escolas da rede.

Skip to content